Leia as partes 1 e 2
Depois de identificar suas próprias aptidões, você trabalha. Com o trabalho a probabilidade de lhe incumbirem de missões ainda complexas torna-se maior. E foi assim que logo me vi candidato a Mestre Conselheiro Regional e Estadual. Assim, fui a vários lugares do Estado e conheci vários DeMolays vivenciando a Ordem de acordo com as suas diversas e peculiares situações geográficas, econômicas e cultural.
Poderia escrever sobre cada viagem que fiz, cada situação delicada que tive que intermediar, e cada descoberta que fiz sobre mim e sobre os que me rodeavam, mas como vocês devem imaginar, tomariam muitas linhas e sem isto essa já será uma publicação relativamente extensa em comparação às anteriores.
Resumo falando apenas que estes foram os últimos meses da minha vida como DeMolay Ativo e pude com certeza concluir todas as lições que tal período me ofereceram.
Vi jovens de 12 à 28 juntos realizando filantropias de emocionar e que com certeza mudaram o futuro cidadão que cada um seria, vi pessoas que sacrificavam suas vidas para se dedicar à
essência da Causa da Ordem, vi muita alegria dentro de meu Capítulo, aprendi a não julgar os vícios das pessoas da mesma forma que se julga o caráter pois os desvios que maculam
um ser deve passar por um processo individual de assimilação já os que maculam a convivência podem por a perder
todo um grupo, uma comunidade e enfim toda uma
geração de seres. Vi irmãos com situação financeira mais delicada serem ajudados em momento de necessidade por outro
(que por sinal, até hoje é tido como escroto e frio por alguns), fui recebido em cidades onde nunca pisei em casas que nunca entrei, e fui recebido como se fosse
(e era) parte da família. Conheci jovens valorosos que pautavam sua vida na sinceridade e humildade.
Mas também nesse tempo que vi amigos e irmãos de 15 anos de convivência chorarem pelas mudanças que a vida imprimiam em seus pares, que lhe levavam a ter no afastamento a única escolha. Nesse tempo vi os conceitos de justiça que eu pensava que fosse luta comum à todos os membros da Ordem ruírem, mas não distante de mim e sim diante de meus olhos. Eleições decididas debaixo dos panos travestidas em justificativas nunca provadas, participação de líderes em perseguições contra outro grande líder que tornou-se vítima da guerra interna de poder da maçonaria estadual, vi irmãos que compartilham do meu sangue tornar-se um quadro emoldurado de deslealdade quando trocou uma amizade que beirava uma relação paternal com um sênior demolay, pela boa convivência com os que seriam os novos arquitetos do poder político dentro da Ordem. Me vi num campo de batalha, e quando olhava para trás não enchergava mais o meu LAR. Pior que isso, vi outros além de mim enxergar isso, até hoje se calarem, e nada mudou. Mas mais e antes de tudo isso já via com incômodo uma Fraternidade que não é UNA, que diariamente nutre diferenças, desavenças e desrespeito por outros que firmaram os mesmos compromissos com um mundo melhor e olho para trás e vejo como fui, assim como tantos, condicionado a viver confortavelmente dentro desse ambiente contraditório e achar que discordar radicalmente disso era anormal e sem razão.
Aqui começa uma estorinha, nela as semelhanças com a realidade são meras coincidências. ;)
Neste último sábado de reuniões do ano
(22/12), resolvi enfrentar o destino e fiz minha escolha. Resolvi lutar pelo meu Lar. Mas não dependia apenas de mim. Outros irmãos de tanto caráter e valor quanto julgo que deva ter um DeMolay ainda estavam debaixo do teto daquela casa sob a tutela troncha de traidores, oportunistas e cibernéticos
(que por sinal tá se tornando a nova moda por aqui. Criar uma página no Facebook e falar tudo de bonito que por vezes o próprio não acredita e nem realiza e assim tornar-se um conhecido de todos, que por ser apenas conhecido na realidade não se é conhecido realmente), caberia à eles decidirem por um novo caminho, dentro do que é justo e correto.
Fui com o intuito de lhes apresentar um caminho diferente, onde não houvesse mais espaço para as velhas tradições políticas e de convivência
(leia-se falsidade) dentro da Casa.
Como imaginei, a oportunidade de liderar é valiosa para quem tem vontade de realizar algo, e ela pesou, já que não acredito,
ou prefiro não acreditar, que foi para manter o enganoso
brilho do colar que guiou a escolha dos mesmos.
Ameaçados pela minha presença, logo os senhores se movimentavam freneticamente exalando ódio. Não demorou para que o bode expiatório
(aquele que não tem nada a perder - por que nunca foi nada- e lança a investida que precisar não importando o nível, claro) viesse ao meu encontro na frente dos irmãos que ali transitavam e com o tom de voz elevado me perguntava: "
Você não respeita a festa dos outros não rapaz ?! Vai falar nada não? Só sabe escrever coisinha bonita é ? " Confesso que não respondi à altura por não esperar que ele baixasse o nível ali naquele instante, mas pensando bem, eu deveria ter esperado por isso. Agradeço à minha personalidade que não tornou o ocorrido em algo ainda pior de se relatar.
(( E é aqui que começa o fim da minha reflexão sobre a maioridade. ))
É verdade que a maioria de meus discursos sempre eram muito bem comentados, coisas que escrevia sobre a Ordem eram repercutidas na mesma proporção, mas ao contrário do que aquele senhor alegava
eu sempre realizei. Minhas habilidades de observação e comunicação não eram menores que as filantropias que realizei, que as atividades administrativas que normalizei, que as viagens e
eventos que organizei, tudo
contando com meus irmãos de Capítulo, e acima de tudo sempre agi nas proporções da minha sinceridade e defendi meus ideais sempre em todo lugar e diante de quem quer que fosse, do iniciático ao
Rei das Cocadas.
E deve ter sido com medo disso tudo e da verdade escondida que lhes confere permanência entre nós que eles
vetaram meu pronunciamento em minha própria casa.
Casa é como qualquer um pode chamar uma edificação que lhe abriga. Mas aquilo já foi um Lar, que só pode ser chamado dessa forma quando abriga apenas pessoas que se gostam, que se respeitam, que emana harmonia e te impulsiona ao progresso. Quem tem um lar, mesmo que ande para longe por necessidades da vida, sempre estará olhando para trás e retornará quando assim seja necessário para sustentá-lo ou reerguê-lo.
E desta vez parti sem olhar para trás, sem lágrimas de alegria, algumas de tristeza outras de raiva, na pele as lições de
Amor Filial, para me lembrar que eu nunca devo fazer nada que meus pais não se orgulhem ou se entristeçam,
Reverência pelas coisas sagradas, para lembrar que cada um tem o seu Sagrado e que isso nunca pode ser motivo de pré-julgamento de caráter,
Cortesia, para que eu possa tratar com respeito a todos que merecem,
Companheirismo, para que eu seja sempre amigo certo e fiel daqueles que chamo de amigo e irmão
(ler 4P),
Fidelidade, aos princípios, à justiça, à mim e aos que isso esperam de mim,
Pureza, para ter a consciência de que todos meus atos sejam bem intencionados e considerando meus próximos, e ainda, a consciência de que eu ainda tenho que aprender a purificar minha mente quando pensar naqueles que carregam as mazelas da humanidade,
Patriotismo, para ter a consciência de que lutamos pela nossa pátria todos os dias, mas nunca parados.
Mas estas lições não estariam completas sem a
lealdade e
tolerância , ou mesmo sem termos a consciência de que a liderança que se recebe por barganha tem um preço moral à se pagar e a amizade é um bem tão valioso quanto qualquer posto de liderança, que somente carregando todos esses ensinamentos podemos ser
Alumnis.
Obrigado Ordem DeMolay.
DeMolays de todas as partes e supremos, a luta para mudar o mundo começa dentro de si, passa a ser então dentro de seu lar e só aí estaremos prontos para lutar de e em verdade pelo mundo.
No fim...
O branco não veste mais.
O brilho sobre os ombros tornou-se fosco.
Mas a missão nunca termina.
"Aos que virão depois de nós
Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?
[...]
Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Manter-se afastado dos problemas do mundo
e sem medo passar o tempo que se tem para
viver na terra;
Seguir seu caminho sem violência,
pagar o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim.
É verdade, eu vivo em tempos sombrios! [...]"
Bertolt Brecht
"É preferível cultivar o respeito do bem que o respeito pela lei."
Henry Thoureau